Interrogatório de Sócrates está a correr "muito bem" e é retomado às 9h15

Ex-primeiro-ministro vai passar uma terceira noite no Comando Metropolitano da PSP de Lisboa.
O advogado João Araújo tem sido o único a falar com os jornalistas ENRIC VIVES-RUBIO

José Sócrates vai passar uma terceira noite nos calabouços da PSP. Eram 20h45 quando o seu advogado, João Araújo, deixou o Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, e informou que o primeiro interrogatório judicial será retomado às 9h15 de segunda-feira. Neste domingo, passaram mais de 12 horas no Campus de Justiça.

O advogado, que tinha prometido uma “eventual” declaração para o final deste domingo, mas, à semelhança do que aconteceu no sábado, limitou-se a repetir frases soltas. Respondeu que o seu cliente tem respondido às perguntas do juiz Carlos Alexandre, justificando: “Se não respondesse não estávamos aqui a esta hora”.
João Araújo garantiu que o interrogatório está a correr “muito bem” e que o seu cliente também está “muito bem”. “Está melhor ele do que eu”, repetiu por várias vezes sobre o estado de espírito do ex-primeiro-ministro. Em relação às suas impressões sobre o processo e a forma como Sócrates foi detido, à porta do avião, João Araújo afirmou que “os advogados não se espantam, não têm estados de espírito e não têm sentimentos”.
Depois, João Araújo solicitou a ajuda dos jornalistas para tentar encontrar o seu carro estacionado nas imediações do Campus da Justiça. Localizado o veículo, disse que não entrava enquanto as câmaras das televisões estivessem ligadas. “Fico ridículo porque sou gordo e o meu Smart é pequenino”, justificou.
Cerca de uma hora antes os outros três arguidos do processo tinham já sido levados para a Polícia Judiciária onde vão passar uma quarta noite. Já José Sócrates passará a terceira noite no Comando Metropolitano da PSP de Lisboa (Cometlis). As medidas de coacção deverão ser conhecidas na segunda-feira e têm obrigatoriamente de ser comunicadas aos quatro ao mesmo tempo.
José Sócrates está a ser investigado no âmbito de um inquérito sobre suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, aberto na sequência de uma "comunicação bancária". Foi detido no aeroporto da Portela, na sexta-feira, quando regressava de Paris para Lisboa.
A Procuradoria-Geral da República confirmou no sábado a detenção do ex-primeiro-ministro, assim como do empresário Carlos Santos Silva, do advogado Gonçalo Trindade Ferreira e do motorista João Perna. Nesse dia, o antigo chefe de Governo passou cinco horas no Campus da Justiça, antes de regressar ao Cometlis, onde pernoitou pela segunda noite consecutiva.
José Sócrates, de 57 anos, foi primeiro-ministro de Portugal entre Março de 2005 e Junho de 2011. Foi o primeiro socialista a governar com maioria absoluta, tendo deixado o Governo após o pedido de ajuda à troika de credores internacionais em Junho de 2011. 
Depois dos mais de seis anos de governação, Sócrates mudou-se para Paris, onde estudou, afastando-se da vida política portuguesa. Em Março de 2013, regressou à ribalta, com uma entrevista à RTP, e em Abril desse ano tornou-se comentador da estação pública, com um programa semanal, ao domingo.
Nessa entrevista à RTP, Sócrates foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo em Paris. “Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive acções, offshores, nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do Governo foi pedir um empréstimo ao meu banco”, explicou então.
O nome do ex-primeiro-ministro já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do empreendimento Freeport em Alcochete e as polémicas escutas do processo Face Oculta, mas nunca a justiça tinha ido tão longe em relação a Sócrates.

Comentários