Globo, desça do seu trono

O jornal O Globo, fundado em 1925, tornou-se um poderoso grupo de comunicação a partir de 1964, com o advento do golpe militar que contou com a ativa participação do veículo. 


  
Tendo conseguido em dezembro de 1957, durante o governo Juscelino, a concessão para o canal quatro do Rio de Janeiro, o sistema Globo só colocou sua emissora no ar em abril de 1965. Em troca da sustentação à ditadura, o sistema recebeu todo tipo de favores do poder público visando montar uma poderosa rede nacional de comunicação que abarcasse todo o país e defendesse os generais que se sucediam na presidência. Com uma história de falsificações e manipulações, a vênus platinada, apesar do poder que ostenta, vê sua audiência cair de ano a ano. O Jornal Nacional, principal instrumento de manipulação política da emissora, que chegou a superar a marca de 70% de audiência, hoje patina abaixo dos 20%.


Globo, desça do seu trono II

Seu jornal também sofre forte queda nas vendas e cada vez mais o sistema Globo precisa do auxílio do capital financeiro, do qual atualmente é porta voz tão fiel quanto era fiel aos generais que o favoreciam. O Notas Vermelhas considera que o governo Dilma tem muitas qualidades e, é claro, alguns defeitos, vindos principalmente do fato de que ela lidera uma coalizão com forças políticas contraditórias. Sabemos, contudo, que muita gente boa acha que, ao contrário, o governo Dilma tem muitos defeitos e apenas umas poucas qualidades. Porém, quem acredita que o sistema Globo lidera a campanha pela asfixia política e/ou impeachment de Dilma por conta dos defeitos que existem no governo precisa ser avisado urgentemente de que Papai Noel não existe. O monopólio midiático – Globo à frente – ataca Dilma justamente por suas qualidades (poucas ou muitas) em nome da luta pelo poder político a favor de quem este monopólio representa: o mercado financeiro e a elite mais conservadora e reacionária.

Globo, desça do seu trono III

Poderíamos ter acrescentado ao título desta nota: Globo, desça do seu trono, respeite o voto popular. Mas nos lembramos da fábula do escorpião que não pode trair sua própria natureza. A natureza do sistema Globo é o autoritarismo. Vitorioso o movimento golpista, mesmo revestido de uma camada mais “civilizada”, o saldo seria a derrota do campo popular e a recuperação, em termos de poder político, do sistema Globo, que acostumado a usar o aparelho estatal para seus fins, buscará nesta vitória a chave para a recuperação e para a perpetuação de um nefasto poder, antinacional, antipopular e antidemocrático. Nestes tempos de carnaval, o título destas notas está parafraseando Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Portela, sambista e comunista, que no samba “Ouro, desça do seu trono” feito em parceria com Candeia, diz que “nessa terra sem paz com tanta guerra / a hipocrisia se venera”. Derrotemos os hipócritas golpistas, conversando com o povo, amigos e vizinhos e mostrando que, nesta avenida iluminada, só pode sambar quem respeita a cadência da democracia.

Falsificando a história

Na Folha de S. Paulo desta quarta-feira, Julia Sweig, a pretexto de falar sobre o reconhecimento da pobreza e da desigualdade nos EUA, escreve o seguinte, falando do Brasil: “Num país onde desigualdade e identidade nacional andam de mãos dadas, 25 anos atrás uma classe política inteira, abrangendo todo o espectro político, decidiu que democracia sem inclusão social é insustentável”. O belo discurso de Sweig faz crer que a partir dos anos 90 toda a classe política defendeu os direitos sociais e a distribuição de renda. Quem participou das lutas por justiça social no Brasil nestes últimos 25 anos ou mais sabe que nada pode ser mais falso. Aliás, em 2002, entrevistado pela própria Folha de S. Paulo(24/7/02), FHC, então presidente, respondendo porque o índice Gini (que mede a concentração de renda - quanto maior o índice maior a concentração) havia aumentado no Brasil e atingido 0,607, declarou que “examinou dados do Reino Unido durante um século e não encontrou variações significativas. É difícil mexer na repartição de renda entre capital e trabalho no capitalismo". Hoje o índice Gini de 2013, último apurado no Brasil, foi de 0,495.

Vanguarda do atraso

Jornal Folha de S. Paulo informa, em sua coluna Painel desta quarta-feira (11) que “deputados e senadores de oposição vão participar de protestos de 15 de março pedindo o impeachment de Dilma, Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, já confirmou presença”. Faltou falar da família Bolsonaro, que irá em peso. Médici, Geisel e Figueiredo (generais da ditadura) não irão por motivos alheios às suas vontades.

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