Aliados de Dilma contestam cálculos de adversários. Seguem conversas de bastidores

Senadores pró-impeachment dizem que têm entre 60 e 62 apoios; contrários ao afastamento acham que base de Temer não tem ainda os 54 votos necessários
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 30/08/2016 18:26, última modificação 30/08/2016 18:32
EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
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Parlamentares usam as horas finais antes da votação do impeachment para negociação de votos
Brasília – Com a proximidade do encerramento da sessão do impeachment da presidenta Dilma Rousseff hoje (30), no Senado, parlamentares fazem contas. Para o ex-ministro do Planejamento do governo Temer, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e o ministro provisório da Casa Civil, Eliseu Padilha, a expectativa é de 60 votos pela perda do mandato. Já para os aliados de Dilma como Lindbergh Farias (PT-RS) e Jorge Viana (PT-AC), os adversários possuem 52 votos, faltando dois necessários para aprovar o impeachment. O grupo dá como certo 29 votos contra.

O senador Romero Jucá, que tem dedicado os últimos dias a articulações pelo impeachment, diz que ele poderia até falar em 62 votos, mas que dois apoios estão indefinidos. No grupo de apoio a Dilma, o principal negociador tem sido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner – e o que se fala é que as conversas correm soltas.
A maior surpresa da terça-feira, no entanto, foi o desmentido feito pelo senador Hélio José (PMDB-DF), que na noite de ontem indicou uma mudança para se posicionar favorável à presidenta e contra o impeachment. O parlamentar tinha votado pela admissibilidade do afastamento de Dilma e protagonizou, recentemente, uma crise política no DF – flagrado numa gravação em que dizia que tinha “os cargos que quisesse no Ministério do Planejamento”, no governo provisório de Michel Temer.
Depois de atritos com o governo interino e após ter participado de muitas conversas com integrantes do PT, ele anunciou uma mudança na forma como iria votar. Nesta terça-feira, entretanto, chegou quieto ao Senado dizendo que após avaliar até o final o discurso da presidenta, achou que houve, sim, descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Perguntado por jornalistas sobre reuniões que teria tido nas últimas horas a respeito de cargos com integrantes do governo Temer, Hélio José desconversou. Ressaltou que a gravação divulgada na imprensa foi editada e que ele não recebeu compromisso de ter direito a indicar cargo algum, nem chegou a pedir por isso. Também negou que tivesse participado de uma última conversa com peemedebistas.
O movimento “deixo- não deixo” sobre apoio ou não ao impeachment, feito por Hélio José, levou a debates no cafezinho do Senado e, até, a piadas entre os senadores. Político considerado de baixo clero em Brasília, ele chegou a ser candidato a deputado distrital e perdeu as eleições. Emplacou uma chapa como suplente do então senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) em 2010 por orientação do PMDB e, em 2014, para surpresa dele próprio, foi chamado a assumir o cargo depois da eleição de Rollemberg para o governo do Distrito Federal.
“Já pensou no Hélio José dirigindo um órgão do Ministério do Planejamento?”, questionou hoje um integrante do PT. Mas as contradições do senador terminaram inspirando a criação de vários memes nas redes sociais, principalmente relacionados às suas frases. Durante a votação que admitiu o processo de impeachment, ele disse que “tinha convicção de que as provas (contra a presidenta) eram robustas”.
Ontem, o senador afirmou que ao analisar o conjunto da peça probatória ficou “impressionado com a fala do senador Paulo Paim (PT-RS)” e, por isso, estava quase convencido que era preciso votar contra o impeachment para evitar perdas de direitos para os trabalhadores. Hoje, o discurso defendido foi de que ele votará pelo impeachment “independentemente de vir a receber ou não cargos no governo Temer”.

'Revelação' de Otto Alencar

Outra surpresa foi o posicionamento do senador Otto Alencar (PSD-BA). Ele vinha se esquivando de confirmar a forma como iria votar e dava esperanças por parte dos dois lados. Alencar foi, ao longo do mês, bastante procurado pelos aliados de Temer e chegou a participar de uma solenidade no Palácio do Planalto, duas semanas atrás – o que foi considerado um sinal de que iria votar com a base aliada do governo provisório. Mas o cômputo ficou para o lado dos aliados da presidenta Dilma.
O senador baiano disse que votará contra o impeachment. Ele foi eleito pela chapa do ex-ministro Jaques Wagner para o Senado (quando Wagner foi reeleito governador, pelo PT, em 2010), mas sempre foi considerado um político aliado ao DEM e ao PMDB no seu estado. “Estavam dizendo que sou um dos indecisos, portanto, o momento exige que eu me posicione desde já e estou fazendo isso”, afirmou, sem muitas justificativas.
Um outro impasse diz respeito ao voto do senador Roberto Rocha (PSB-MA). Da mesma forma que os outros citados, Rocha tem sido abordado pelos dois lados e ainda não confirmou como vai votar. Hoje, alguns veículos de comunicação mencionaram que, durante as negociações com a base de Michel Temer, tinha sido proposto a ele que, se votasse pelo impeachment, seria contemplado com uma das diretorias do Banco do Nordeste. Ninguém confirmou nem negou a informação até agora.

Mota continua com Dilma

Também ontem, na abertura dos trabalhos, o senador Telmário Mota (PDT-RR) – que votou contra o impeachment e tinha dito que estava indeciso – confirmou seu voto. Mota divulgou uma nota dizendo que ficou o dia todo “pensando sozinho sobre a decisão que tomaria, mas faltava questionar a presidenta sobre como será a sua governabilidade caso ela volte ao poder”.
E afirmou: “Dilma acaba de me convencer de que buscará ‘os bons’ para governar ao lado dela”. Na verdade, sabe-se que a nota foi só uma justificativa do senador para dizer aos com quem manteve entendimentos que realmente votará favorável à presidenta afastada.
Outro que disse que tudo dependeria da avaliação que fosse fazer ao final do discurso de Dilma foi o senador Jáder Barbalho (PMDB-PA). Barbalho participou dos governos do PT durante mais de oito anos e seu filho, Hélder Barbalho, ocupou o cargo de ministro dos Portos, no governo Dilma. Hoje, Hélder é titular da pasta de Integração Nacional.
O senador paraense se absteve de votar na primeira sessão que admitiu o impeachment, com o argumento de que estava hospitalizado, na época. Ontem, ele só chegou ao Senado no meio da tarde. Seu voto é tido como favorável ao impeachment pelos peemedebistas, mas o senador levou a suposições diversas sobre sua conduta, nas últimas 24 horas.
Há pouco, o senador Fernando Collor (PTB-AL), que tinha conversado por longas horas com Dilma Rousseff na última sexta-feira, no Palácio do Alvorada – e era considerado um dos parlamentares indecisos – subiu ao plenário. Collor leu trechos da carta da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no período do seu impeachment e ressaltou em tom solene: “Faço minhas, hoje, as palavras que foram registradas neste documento de 24 anos atrás”, confirmando que votará pelo afastamento da presidenta.
Em meio a choros, defesas, acusações e desaparecimentos rápidos dos parlamentares do plenário por uma ou até duas horas para "pequenas reuniões", o que é dado como certo por observadores diversos é que, de agora até o final da sessão, o ambiente que perdura no Senado diz respeito muito mais às confissões sobre votos e quem ficará ao lado de quem do que ao conteúdo dos discursos que estão sendo proferidos sobre apoio à democracia ou rompimentos constitucionais.

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