Investigado da Lava Jato diz que foi "chantageado e intimidado" pela PF

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Jornal GGN - Um réu da Operação Lava Jato denunciou que foi "coagido, chantageado e intimidado" pelos delegados da força-tarefa, em interrogatório. Trata-se do assessor do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), Paulo César Roxo Ramos, que foi preso preventivamente em abril deste ano.
 
Ao juiz Sergio Moro, Ramos disse nesta segunda-feira (29) que ouviu dos membros da Polícia Federal que "se não falasse o que o delegado queria ouvir", a sua prisão seria convertida em definitiva.
 
"Fui coagido, chantageado, intimidado ostensivamente de maneira pouco usual. Acima do que aceitável, entendo eu, pelo código de conduta da carreira do servidor", denunciou.
 
Alvo da 28ª fase da Operação Lava Jato, denominada de "Vitória de Pirro", a etapa investiga a cobrança de propina para evitar a convocação de empreiteiros em comissões parlamentares de inquérito sobre a Petrobras. Gim Argello seria um dos beneficiários.
 
Para os investigadores, Paulo César Roxo Ramos teria recebido a propina, em dinheiro vivo, cerca de 250 mil euros, em nome de Argello, e que assim não convocaria executivos de empreiteiras. Quem teria pago a propina seria o lobista Julio Camargo. 
 
Com a denúncia, a PF encaminhou ao Ministério Público Federal (MPF) cópias dos vídeos do interrogatório para serem juntadas aos autos do processo. Para os delegados, não houve coação ao investigado.
 
"Diante dos fatos, afigura-se lamentável a deslealdade, imoralidade e falta de ética do investigado e de sua defesa técnica ao imputar falsamente a prática de crime pelas autoridades", defenderam os procuradores da República, em petição anexa na tarde desta segunda.
 
Entretanto, não se sabe se o vídeo anexado é referente aos dois depoimentos prestados pelo investigado. Um deles, no dia 14 de abril, teria ocorrido com a presença de procuradores da República, e teria sido tratado de maneira correta. Mas no dia seguinte, 15 de abril, foi quando ele afirmou ter sido intimidado pelos delegados, quando já não estavam os procuradores.
 
"O tempo todo foi me dito que se não colaborasse, se eu não falasse o que o delegado queria ouvir, que minha prisão seria convertida em definitiva", disse.
 
O juiz Sergio Moro respondeu que ele estava dizendo algo muito grave e perguntou o que o investigado gostaria de retificar no depoimento prestado e anexo aos autos. Ramos respondeu que o delegado colocou coisas em sua boca, como a menção à existência de caixa 2.
 
"Eu não disse isso, disse no contexto porque ele (o delegado) ia colocando coisas na boca. Ele me pergunta: 'Poderia ser caixa dois?' Eu disse 'poderia, se não foi contabilizado, poderia'", explicou.
 
Questionado por que não procurou o MPF para a correção, Ramos disse: "Eu estou seguindo uma linha de defesa, não sou jurista, não sou advogado. Em que pese a presença do meu advogado, que agiu de boa fé, (o depoimento inicial à PF) beirou à prevaricação, sob forte emoção e abalo psicológico, naquele momento você quer apenas sair dali".
 
Em nota à reportagem de O Globo, a PF disse que foi "surpreendida" com as declarações de Paulo César e que os depoimentos seguiram "todos os parâmetros legais para um ato desta natureza". Disse, ainda, que repudia as alegações do investigado, "uma vez que não refletem a postura de seus servidores que primam por uma atuação técnica, responsável e garantidora de todos os direitos fundamentais do cidadão".

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