Senador que acusou Dilma de fazer pacto com o diabo responde por comprar votos no Acre por 50 reais

VIOMUNDO - 30 de agosto de 2016

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por Garganta Profunda*
A sessão em que a presidente Dilma Rousseff, prestes a perder os direitos políticos por oito anos, apresentou sua defesa no Senado, teve momentos irônicos — para não dizer abertamente cômicos.
Vestida de verde e amarelo, a senadora Ana Amélia questionou duramente Dilma, ela que foi eleita pelo Partido Progressista. O PP é o partido com o maior número de parlamentares investigados na Operação Lava Jato.

Em 1986, a senadora serviu ao mesmo tempo como secretária parlamentar do marido, o senador biônico Octávio Omar Cardoso, do PDS, e diretora da RBS — afiliada da Globo — em Brasília.
Pelo cargo no Congresso ela recebia salário mensal de cerca de R$ 8 mil em valores atuais,segundo o site Sul 21:
Segundo Ato da Comissão Diretora do Senado nº12, de 1978, a função de Secretária Parlamentar exercida pela então jornalista tinha como tarefa prestar “apoio administrativo ao titular do Gabinete, preparar e expedir sua correspondência, atender as partes que solicitam audiência, executar trabalhos datilográficos, realizar pesquisas, acompanhar junto às repartições públicas assuntos de interesse do Parlamentar e desempenhar outras atividades peculiares à função”.
À época colunista do diário gaúcho ligado à RBS, Ana Amélia ocupava o cargo pago com dinheiro público quando viu o jornal para o qual trabalhava publicar o editorial Moralidade, em que o Zero Hora denunciou a “política do nepotismo, do apadrinhamento, do favorecimento, de que são tristes exemplos os trenzinhos da alegria”.
Outro “ponto alto” da sessão de ontem foi a tentativa do candidato DERROTADO nas eleições de 2014, Aécio Neves, de olhar pelo “retrovisor da História” sem mencionar que ele é campeão de citações de delatores na Operação Lava Jato.
Dentre as acusações a Aécio, a de que foi beneficiário de um esquema montado na estatal Furnas para financiamento de sua campanha e de aliados.
No final da noite outro momento cômico coube à advogada Janaina Paschoal, que não fez perguntas sobre o objeto do processo, mas pretendia discutir política econômica com Dilma Rousseff.
Mas, antes, o senador Sérgio de Oliveira Cunha, o Petecão, do PSD do Acre, perguntou a Dilma se ela tinha feito “pacto com o diabo” para se reeleger em 2014.
Petecão lamentou que petistas — adversários locais dele — tentaram cassar seu mandato, o que foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal. Dilma não respondeu diretamente à pergunta.
Petecão fracassou três vezes na tentativa de se tornar prefeito de Rio Branco, mas teve sucesso na carreira parlamentar. Foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa do Acre, deputado federal e agora está no Senado.
Ele responde a quatro ações no STF.
Na Ação Penal 542, ele é acusado de peculato. Quando deputado estadual no Acre, Petecão teria forjado faturas para reembolso de passagens aéreas no valor de R$ 78 mil. O prejuízo da União no recolhimento de impostos foi de R$ 99 mil.
Petecão também é acusado de crimes eleitorais por ter omitido bens em sua declaração à Justiça Eleitoral do Acre: duas casas lotéricas, uma gleba de terra, quatro lotes, 480 cabeças de gado e uma casa. O relator do inquérito é o ministro Celso de Mello.
Outro caso ainda a ser julgado é a Ação Penal 880.
Petecão é acusado, quando presidente da Assembleia Legislativa do Acre, de ter montado um esquema para compra de votos com o presidente da Empresa Municipal de Urbanização de Rio Branco.
O esquema envolvia presidentes de associações de bairros da capital acreana. A Emurb prometia obras em troca de votos para eleger Petecão.
Na mesma campanha, Petecão teria montado esquema para comprar votos através da distribuição de terrenos, bicicletas e aparelhos eletrônicos.
Além disso, responde por montar esquema com laranjas, que teriam obtido empréstimos bancários com o objetivo de pagar R$ 50 por voto.
Naquela campanha, em 2006, Petecão se elegeu deputado federal com 27.936 votos.
O senador acreano é mais um exemplo, nesta Galeria dos Hipócritas, de que o foro privilegiado junto ao STF é praticamente garantia de impunidade, dado que os processos se arrastam por anos a fio.
Acusado de crimes eleitorais gravíssimos, Petecão agora é juiz de Dilma, que pode perder os direitos políticos por 8 anos sob acusações vagas, ainda por se provar.
*Jornalista investigativo com duas décadas de experiência contratado pelos leitores do Viomundo para fazer esta galeria.
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